Casamento pós filhos: Em busca da conexão perdida

Final de 2013, enfim, realizado um sonho nosso: o de termos nos braços um fruto do nosso amor.

A história seria linda, se nesse momento colocássemos um “e viveram felizes para sempre”. E PONTO FINAL.

Mas não estamos num conto de fadas. No mundo real, a vida continua. E essa vida pós filhos dá uma bela chacoalhada na maioria esmagadora das relações. Alguns poucos admitem, pois é sofrido não ter aquele casamento que sempre sonhou, principalmente após algo tão importante para ambos ter vindo para a vida da gente. Uma culpa vem ao pensarmos dessa forma. Mas não deveria. A culpa não é do bebê, tampouco da maternidade. A culpa é de nós mesmos, que deixamos cair nossas conexões, esperando sempre do outro alguma atitude, enquanto nos mantemos ocupados com nossas novas responsabilidades e novas prioridades.

É algo muito importante de ser debatido e, principalmente, conhecido, para que estejamos preparadas para viver as dificuldades pós filhos, como que como um mapa, mostrando algum caminho adverso ao qual podemos passar ou desviar.

Em relação ao nosso caso. Nos amamos? SIM.

Há motivos palpáveis para brigas: Se contarmos para amigos pelo que brigamos, as pessoas riem. Brigamos pelas meias fora do lugar, pelo copo sujo na pia e por quem está mais cansado.

Coisas banais que esgotam o dia a dia. Coisas bobas sim, mas não menos importantes, pois são exatamente elas que instauram no lar a discórdia e perda de conexão do casal.

 

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Uma pesquisa publicada em 2014 pela Open University, no Reino Unido, entrevistou 5 mil casais separadamente e mostrou que os sem filhos se consideram mais felizes no relacionamento. A principal justificativa é a dedicação de mais tempo para a manutenção do relacionamento, com apoio, conversa, frases como “eu te amo” e CONEXÃO.

Achei que a pesquisa é falha no fato de não levarem em consideração de que casais sem filhos geralmente tem menos tempo de relacionamento (e todo começo é lindo), mas temos que admitir uma coisa: por mais maravilhoso que seja a chegada de um filho, ele vira sim de cabeça para baixo a sua vida e a da casa. E as estatísticas são claríssimas: cerca de 83%  dos casais passam por hostilidades no casamento após a chegada de um bebê, permanecendo até que saibam lidar com essa nova realidade (Pesquisa do Sociólogo E.E.LeMasters).

 

Essa nova realidade é brusca demais, quando você se da conta, as 24h do dia se passaram e você as doou integralmente às crianças. Tem hormônios, está cansada, esgotada, sem ter tempo para você, imagina para outra pessoa que não sejam seus filhos? Além disso, poucos homens entendem de verdade o cansaço fisico e mental que uma mãe sente e pior, a maioria acha que ela esta fazendo só a obrigação, e que ela deve poupá-lo de aborrecimentos, já que ele passou um dia difícil fora de casa.

 

Nem todos admitem, mas a maioria esmagadora de nós mulheres acha que homem tem que AJUDAR, onde na verdade, pai não tem que ajudar, tem que DIVIDIR A RESPONSABILIDADE.

 

A culpa não é só deles não, é nossa! Quando escrevo sobre casamentos, recebo várias mães dizendo: “ah aqui não posso reclamar! Meu marido lava as louças” ou então “ahhhh, ele dá o banho todos os dias”.

Fico feliz quando algumas mulheres se satisfazem com “ajudas”, afinal cerrar os olhos é também uma maneira de viver a vida a dois. Mas para mim, “ajudas” assim nunca foram suficientes. Eu quase desapareci ao virar mãe, portanto para estar bom, tem que ser justo. Tem que ter valor, merecemos valorização.

 

Assim foi iniciada nossa lenta e uniforme desconexão.

 

Sim, sempre fomos muito diferentes um do outro, tipo Eduardo e Mônica, amando aquela característica um no outro que jamais teríamos em nós. Eu amava sua carisma e ele amava meu foco. Mas tínhamos uma conexão enorme, mesmo tão diferentes.

Nos amávamos pela complementariedade:

  • gosto de cinema, ele não.
  • Gosto de estudar, ele não.
  • Ele gosta de esportes, eu odeio.
  • Ele é despojado, eu sou séria.
  • Eu sou focada, ele é relax.
  • Sou vaidosa, e ele nunca ligou para unhas feitas.
  • Ele trabalha na aviação, onde espera por tempo de serviço a sua promoção. Eu trabalhava em mercado financeiro, onde promoção vinha por mérito.

 

Muitas diferenças, porém, um interesse absurdo em estarmos um do lado do outro crescendo juntos.

Quando finalmente viramos pais, a estrutura mudou. E muito. Continuávamos diferentes, mas com algumas coisinhas a mais:

  • eu gosto de cinema, ele não, mas e daí? Com quem ficará a Clara? (Não temos nenhuma babá de confiança e moramos longe da família).
  • “Eu gosto de estudar, ele não”. “Ele gosta de esportes, eu não”. Mas e daí? Que horas faríamos isso nessa nova realidade?
  • Ele é despojado, eu sou séria: Que diferença isso faz quando não se dorme?
  • Eu sou focada, ele é relax: Isso em terra de desentendimentos é uma bomba!
  • Unhas? Raramente elas estão feitas agora…
  • Ele continua trabalhando fora, e eu sigo trabalhando em casa: meu próprio negocio, cuidando da Clara, da casa, do meu próprio negocio e de dois cachorros. Eu sinto que ele acha isso pouco, por mais que ele se esforce em dizer que valoriza, quando estamos bem.

E uma coisa em comum:

  • Temos orgulho de participar ativamente e juntos da vida da pequena Clara e disso não abrimos mão. Ela viaja conosco, passeia conosco, faz tudo conosco. Nunca achamos que alguém cuidará tão bem dela como nós mesmos ou nossos pais, que moram em outra cidade.

 

Como podem ver, ultimamente, nossas pequenas diferenças, que eram na verdade um charme, um complemento de nós mesmos que víamos no outro, tornaram-se grandes empecilhos. Tão grandes, elas passaram a ser tudo o que passamos a enxergar.

 

Tão nítido quanto quando ele volta do trabalho, de roupas sociais e uma mala de viagem dizendo “estou quebrado” e eu, no mesmo momento, no chão limpando a meleca que a Clara e os cachorros fizeram, ao mesmo tempo que tem comida no fogo, mas estou ocupada para dizer “oi, também estou cansada”, pois  estou no celular resolvendo algum pepino do meu home office também.

 

Ou quando ele me chama durante o dia para pedir um conselho meu sobre seu trabalho, e eu digo que não posso, pois to trocando fralda ou limpando cocô de cachorro.

 

Aonde foi parar a conexão? No fato de que, quando finalmente estamos juntos, estamos tão focados nas necessidades da Clara, que raramente temos tempo de  fazer sequer um contato visual.

 

Mas não desistimos de nos conectar. Somos duros na queda, apesar do dia a dia estar nos martelando. A falta de tempo para nós dois também. Clara tem 2 anos e nunca tivemos como sair a noite e no dia seguinte, o direito de acordarmos tarde, após uma balada.

 

O que fazemos então na tentativa?

 

Insistimos em nós dois. A lembrança de que valemos a pena, aliada àquelas “pequenas atitudes”, besteiras, que fazem um dia a dia e, portanto, toda a diferença. Acreditamos que não é uma segunda lua de mel que salva um casamento. Mas valorizar coisas pequenas que compõe um dia a dia, que para nós pode ser besteira, mas para o outro não é.

 

Depois que Clara está na cama, nos sentamos sempre para jantar (quando meu marido está em casa, quem é mulher de piloto sabe o que estou falando), abrimos um vinho e conversamos sobre como foi nosso dia. Depois disso, assistimos a alguma série no Netflix, por exemplo, acabamos em menos de 2 meses as 4 temporadas de Once Upon a Time.

Mas, enquanto ele conta com entusiasmos algo da empresa, eu algumas vezes cheguei a pensar, em deboche: “Meu Deus, como ele pode achar isso tão importante?”, sem demonstrar, claro. Da mesma forma que ele diz que entendeu como foram os meus dias em que ele ficou 5 dias viajando, e eu sozinha “administrei” 1 criança e 2 cachorros doentes (Clara com dor de ouvido e os dogs com vômitos e diarreia). Assim como eu acho pouco alguns “causos” que ele me conta, ele também não sabe o que eu passo.

Ele não estava aqui quando Clara começou a berrar muito, e eu, driblando medicações e limpezas dos cachorros, larguei tudo para sair correndo com ela no Pronto Socorro, chorando de desespero por estar sozinha numa situação dessas.

Eu quero desesperadamente me sentir mais conectada. Amo meu marido. Ele me ama. A prova disso é sempre estarmos tentando, mesmo após tantos tsunamis. Mas nossas vidas mudaram demais e eu não posso ignorar a sensação de que, de alguma forma, as responsabilidades vão além do ponto de conexão.

Precisamos sim voltar nossa conexão, mas também viver o mundo de cada um. Estamos tão cansados após o fim de um dia, que olhar para alguém, que não seja a nós mesmos, é complicado. Diria que isso nem é egoísmo, é sobrevivência.

 

E entender isso, ajuda a não cair na confusão de que o amor se foi. Ele só não teve tempo de ser adubado. E provavelmente vai sim morrer se a gente não se conectar novamente, a tempo.

Isso pode soar absurdo. Mas é a realidade para muitas. Não quero alarmar ninguém. Essa é minha historia, que pode ajudar muitas pessoas a refletir algo que ainda não visualizou.

Eu sei como mudar isso? Não.

 

Mas o conhecimento da situação muda todo um cenário. Então podemos tentar, dialogar e remar contra essa maré.

Se há uma coisa que eu espero reencontrar é a nossa conexão. E ele também, nisso estamos muito alinhados. O que é um bom começo.

 

Porque sabemos que entre dia a dia exaustivo, criança, cachorros, trabalho, tarefas do lar  e as responsabilidades, a nossa conexão ainda está lá, vagando, só não foi priorizada, regada, adubada, cuidada com o amor, carinho e dedicação que ela merece.

 

Um beijo, Marrie
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Mamãe Plugada: Marilia e Rodrigo

122 Comments

  1. Keila

    12 de agosto de 2018 at 19:28

    ri muitas vezes com o seu depoimento. Seu depoimento é a minha vida! 2 cachorros, um bebê 1 ano e 3 meses, trabalho, casa…. Doença, diarréia….até os problemas!

    1. Marrie Ometto

      12 de agosto de 2018 at 20:36

      Rsrsrs… em meio a tantas coisas, é fácil a conexão sumir, né? É preciso esforço…

  2. Cleide Eleuterio Santos Silva

    23 de maio de 2017 at 17:43

    adorei tudo que li, sou casada a 14 anos e temos hoje um menino com dois anos e tres meses e fico ate tranquila que isso praticamente acontece com a maioria dos casais. valeu.

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