Sobre carga mental que a rotina feminina que parece simples à sociedade, mas é extremamente cansativa e estressante.
Conversando com amigas, uma delas me comentou sobre entrevista de emprego com uma candidata à funcionária do lar.
– A Sra vai precisar período integral, de segunda a sexta, “com penso ou sem penso”? – questionou a candidata, que complementa: “por que se for “com penso”, se tiver que não apenas executar as atividades, mas também pensá-las e planejá-las, cobro mais caro”.
Ouvindo isso, só pensei: BINGO! É isso!
Por muito tempo, vivi num casamento com todo o “PENSO” do lar jogado sob minhas costas, sem que houvesse um acordo para que eu ficasse com essa parte todinha para mim: “aonde está a calça vermelha da criança?”, “cadê a colher de pau X?”, “aonde está o carregador de celular?”, “onde está minha blusa”, “o que vamos comer hoje?”, “o que faremos no feriado?”, “peço folga no Natal ou Ano Novo?”…
Achava que isso acontecia por eu ser “mais organizada”. Por eu gostar de ter certo controle sobre as coisas. Ou, simplesmente, por eu ter entrado numa bolha que diz que a mulher é a responsável pelo equilíbrio do lar. Mas depois que a minha filha nasceu, eu não dei mais conta de controlar cada agulha que desaparecia pela casa e isso só contribuía para meu próprio desaparecimento como mulher.
Me senti mais esquecida no pós mãe, mas, na verdade, só acumulei funções e, como humana, esquecer foi um aviso de que aquilo seria demais para mim. Queria me dedicar a “outros pensos” e não ficar expert e detentora dos “pensos” domésticos.
Comecei a forçar meu companheiro a parar de perguntar onde está tudo em casa para mim. Eu não queria aquela função, por que ele estava me delegando? Ele, sem entender, me dizia: “Poxa vida, mas você sabe onde está tudo”.
Parecia má vontade da minha parte. Aí vem essa do “penso” ou “sem penso” e fez todo o sentido!
O “penso” de uma casa deve ser dividido entre os integrantes do lar, pois, apesar de nossa sociedade ser pautada no fato do serviço domestico não ter valor, ele é um dos mais exaustivos e estressantes. E tem coisas que dá para operacionalizar, por que não? Como as contas no débito automático. Eu, trabalhando muitas horas por dia por 10 anos no mundo corporativo, nunca na vida trabalhei tanto quanto em casa. Nunca antes senti burn out antes, mas a partir do momento que tomei a casa para mim apenas, percebi ser esse o causador de um cansaço mental fora do comum. E, nós mulheres, temos que ter tempo para nos dedicar aos “pensos” que escolhemos, não àqueles que nos foram impostos.
No meu livro, “Desapareci ao virar mãe, mas reencontrei-me”, falo um pouco do processo de deixar de ter um pouco do controle de todo o “penso”, inclusive para a melhora da conexão do casal no pós filhos, que se abala bastante nessa fase. Pesquisas comprovam que cerca de 80% dos casais em pós filhos vivem hostilidades e acredito muito que o fator cultural do “com penso”, da mulher querer a perfeição e do “meu marido me ajuda” contribuam demais.
Ao reencontrar-me como mulher, dividi o controle das coisas em pedaços. Se ninguém pegar a outra ponta, deixo solta. Por que a mulher precisa saber onde guarda até cuecas que nem sequer usa? Me libertei dessa bobagem e hoje sou tão mais leve…
Ter o controle de tudo cansa. Dividir isso, participando mais da execução e menos do planejar-gerenciar é libertador!
Quer achar algo? Procure como eu também faria!
Um beijo, Marrie Ometto
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