A birra pode ser um momento de compreensão do que a criança precisa e, por que não, de reflexão de nossa parte sobre como guiá-la diante daquilo é possível ou não dentro do seu desejo.
Vamos deixar o “fui assim e não morri” um pouco de lado e vamos tentar nos focar, munidos das informações que temos em mãos hoje em dia, na ótica da criança.
Ela passou 9 meses protegida e desenvolvendo-se no ventre materno (leia aqui sobre gestação semana a semana). Lá era escuro, quentinho, comida abundante e – mais importante – mamãe e bebê sendo um só, o que lhe confere segurança.
Aí chega o parto. Até parece que nasce a criança e ela tem plena consciência do que aconteceu. Não. Ela está ali, tentando entender o que se passa, mas para ela, ainda é parte da mãe. Só saiu de um lugar e migrou para outro. Separação de corpos, união de almas.
Leia também: Carta de um recém nascido à sua mãe
Fusão mãe e bebê, conforme nomeado por Laura Gutman, que só vai se dissolvendo conforme o bebê vai se desenvolvendo (des – envolver dessa relação de fusão com a mãe).
Não tem sido fácil para ela crescer. Conforme a criança vai entendendo-se um pouco mais como pessoa, algo que não é de uma hora da outra – mas conforme desenvolvimento – vem chegando as famosas ansiedades e angustia da separação (se quiserem, baixem essa planilha onde dá para colocar a data do nascimento do seu bebê aqui e saber as datas aproximadas).
Como disse, a criança vai entendendo-se como ser único conforme seu desenvolvimento, e sua principal tarefa nessa jornada consiste em diferenciar-se primeiro da a mãe – a quem nasceu em fusão emocional; depois a família e seu meio social, o qual em algum momento agarra-se como sendo parte de si). A criança vai negando esse mundo para enfim poder alcançar autonomia e independência. A SUA PRÓPRIA IDENTIDADE.
O auge disso, quando a criança discorda de tudo, entende e não quer obedecer e entra em crises existenciais é por volta dos 2 anos, fase da adolescência dos bebês ou terrible two, que começa por volta dos 18 meses e vai até, mais ou menos 3 anos.
Aí a gente reclama! “Que criança mal criada”, “Aonde eu errei”, “O filho do vizinho não se joga”, “ele não quer abraçar e beijar os parentes“, “estão chamando-no de mal educado”, “não sei mais o que fazer!”…
Não sabe mais o que fazer? Pare, reflita e tente enxergar do ponto de vista do seu filho. Empatia é base para muita coisa!
A birra
Em geral aos 2 anos a criança já se percebe como um ser separado do meio que a circunda. Separado da fusão emocional de sua mãe, que também sai dessa conexão tão grande que a fez esquecer de si mesma.
E assim, tomando conhecimento da sua existência, começa a se posicionar diante do mundo, buscando seu espaço, construindo sua própria identidade. Mas imagine: isso tudo deve gerar uma baita confusão de sentimentos, né?
E gera!
Agora adicione a isso um humor a la Charlie Chaplin, cinema mudo.
Nesse processo de entendimento de seus próprios desejos e pensamentos, nem sempre a criança consegue comunicar com clareza o que ela está sentindo. Elas começam a tomar consciência de si, mas nem todas já sabem se expressar completamente diante da fala. E, na angustia de quererem se fazer entendidas e não estarmos entendendo bulhufas do que, muitas vezes, nem a criança sabe o que quer, aí acontece as crises mais absurdas de birras! Ela chora, grita, faz escândalo, se joga no chão, esperneia, bate na mãe, no pai, no amigo, entre outras coisas que chamamos de “maus comportamentos”, como forma de explicitar o que quer, sente, pensa e vivencia com ela mesma e nas relações com as pessoas à sua volta.
Ah, tá? Mas e o “egoísmo”?
Em meio a esse reconhecimento de si mesma e do outro a criança começa a delimitar seu espaço e a se posicionar e diz enfaticamente “é meu” e sai puxando mesmo para defender o que deseja ou é sua propriedade.
Nós adultos chamamos isso de egoísmo. Mas na verdade é uma construção do lugar da criança no mundo, integrando suas experiências e construindo sua própria identidade. Consequentemente, ela se expressa de forma mais ativa para satisfazer-se e afirmar para si e para o mundo o que é importante para ela.
Como adultos, precisamos guiar esse processo. Eu ensino que, se não emprestar, não adianta querer pegar o do amigo emprestado. Ou seja, digo a ela que entendo ela querer delimitar o espaço dela no mundo, naquele momento não emprestando o brinquedo ao amigo, mas que, logo mais ela irá querer algo desse ou de outro amigo e que precisaremos respeitar o espaço dele. Aí seja por bem ou por mal, pois ela está em fase de entender – e de se decepcionar um pouquinho – em relação de que nem tudo no mundo está a sua disposição.
E volta à birra!
As birras se tornam muito mais obvias e aparentes, como disse acima, diante da dificuldade verbal e de compreensão do que está acontecendo.
Birras não surgem “do nada”, nem são uma chatice desnecessária ou mimação da criança, muito pelo contrário: com as birras, as crianças comunicam seu desconforto, elas pedem socorro e elas solicitam atenção, carinho ou alguma necessidade (como sono, fome e dor, tédio, insegurança, medo)…
Mas não sejamos totalmente inocentes, pois as birras, apesar de uma forma de comunicação, são também “teste de poder”.
Leia para entender um pouco mais sobre essa fase dos 2 anos:
Conforme vão saindo da fase dos terrible twos e entrando ainda mais nessa experimentação da sua própria identidade, já com a linguagem mais rebuscada, é natural que a criança tente ver até onde ela pode ir. E como saber? TESTANDO!
E aí entra a importância do NÃO. Nessa fase que, segundo Henri Wallon, já circunda os 3 anos, as crianças formado seus próprios EUs querem ouvir de nós, pais e educadores, até onde podemos ir, isso lhes confere segurança, entendendo os limites.
Ou seja, ao contrario do que muitos que lerão só o titulo e não continuarão no texto pensarão, entender a fase que a criança se encontra, compreender o porquê das birras não significa dizer sim para tudo ou “ahhh coitadinho, ele está passando por uma fase tão conturbada!”… O Não, os limites e o estar próximo é essencial nessa fase de entendimento das fronteiras de meu eu para a entrada do seu eu.
E por que algumas crianças fazem menos birras e outras fazem mais?
As pessoas costumam dizer que minha Clarinha é calma, que não faz birra…Ela faz sim! Claro, faz menos do que outras crianças, mas o meio em que cada uma vive é diferente também…
Então, vale a pergunta: será que birras em excesso não são um pedido de ajuda da criança?
Existe a fase sim, mas existe o pedido de ajuda seja por medo, por estresse, por fome ou sono e tem alguns adultos que, muitas vezes, só percebem através do choro que a criança precisa de atenção e, obvio, ela usara deste recurso, se somente assim ela é atendida!
Ou seja. Existe o momento de ignorar, de mostrar os limites, mas existe o momento de parar e entender o porque daquela birra em si. O que a criança precisa? Qual o pedido de socorro naquela circunstância?
Espero que tenha ajudado!
Um beijo, Marrie
Leia também:
Elo Isa a leitura pode ajudar
Francisco Xavier Fran
Marcel de Carvalho…leia por favor.
der voce
Olha só Carol Ana Caroline Ferreira tudo a ver com o texto que publicou
Perfeito amiga!
Nós pais, precisamos guiá-los, esse é o nosso papel, mostrando-lhes sempre o melhor caminho, não importa o quanto possam errar. Eles não nascem sabendo!
Acredito que eles não se definem pelas crianças que são hoje, mas sim pelas atitudes de adultos no “amanhã” e tenho pra mim, que essas atitudes são totalmente influenciadas pela criação recebida no decorrer da vida.
Erlanio Oliveira
Nelson Costa
Alexandre Robes lê tudo
Raquel Gonçalves ❤️
Marcela Krakauer temos uma desculpa kkkk
Né ????